16.7.2010| 16h09m | artigo
Em nossa forma mais banal de ser humano
O senhor Jerôme Valcke, secretário-geral da FIFA, segundo a imprensa nacional e internacional, repetiu, entre irônico, sarcástico e aborrecido, o conjunto de explicações que constantemente ouve dos brasileiros com quem conversa a respeito da Copa de 2014:
"nossos principais problemas são construir estádios, construir aeroportos, construir estradas, fazer funcionar um sistema de telecomunicações, resolver as acomodações", mas "fora isso, trabalharemos para que tudo funcione".
O presidente Lula não gostou. Na verdade, ele se ofendeu e reagiu à altura. À sua altura, evidentemente:
"Terminou a Copa da África do Sul agora e começam a dizer 'cadê os aeroportos brasileiros, os estádios brasileiros, os corredores de trem, os metrôs?', como se nós fossemos um bando de idiotas que não soubéssemos fazer as coisas e definir nossas prioridades".
Será? E quais são as nossas prioridades?
Se forem as obras para a festa de 2014, estamos realmente muito atrasados. Diria que temos um atraso de uns 5 anos. E uso como régua as obras de reforma do Palácio do Planalto! Um prédio de linhas sofisticadas, mas simples, uma casa grande, é isso que é o Palácio do Planalto.
Pois bem, segundo o representante do arquiteto Oscar Niemeyer, em carta assinada e talvez até rubricada: "O que está sendo feito é de péssima qualidade. Estou perplexo diante de tanto descaso e despreparo".
Apesar do prazo estourado, da entrega da obra já ter sido adiada por três vezes, as falhas encontradas são tantas que até foi questionada a segurança da estrutura do prédio. São tantos os erros a serem corrigidos que a entrega da obra foi adiada mais uma vez e agora se fala que o presidente só voltará a trabalhar lá em agosto.
Deus permita, porque francamente, se esse é o exemplo da mão de obra com que contamos para as obras que a FIFA exige, acho que essa Copa terá que ser adiada para 2041!
Será que a FIFA não exagera um pouco? Quem dá a essa entidade tantos poderes?
Um economista, Stefan Szymanski, e um jornalista, Simon Kuper, escreveram um livro chamado “Soccernomics” no qual dizem o seguinte: "Os brasileiros deveriam ter em mente que, independentemente do que o governo diz, a Copa não os tornará mais ricos como um todo, embora o evento possa ser uma bela oportunidade para quem é dono de uma empresa construtora de estádios. Nós prevemos com confiança que o contribuinte brasileiro gastará mais com a Copa do que dizem as estimativas iniciais".
E Simon Kuper diz mais: “Se o presidente Lula quisesse ser honesto quanto à Copa, diria: ‘Vai custar dinheiro, sobrará menos para escolas, hospitais, mas todos adoramos futebol e será um mês divertido, portanto vale a pena’. O erro é achar que a Copa fará do Brasil um país mais rico”.
Isso tudo e muito mais li no caderno Especial da Folha de São Paulo, editado em 12 de julho. É rico em informações e ainda nos lembra algo que procuramos não ver: é um jogo. Podemos perder ou ganhar. Já pensaram nisso?
Eu concordo com o presidente Lula. Nós, brasileiros, não somos um bando de idiotas. Nós nos fazemos de idiotas quando isso nos interessa. Mas negligentes somos, descansados, também, e arrogantes, muito.
Agora mesmo aceitamos que o presidente enviasse ao Congresso um projeto “pioneiro”que pune os pais que maltratam fisicamente os filhos. Foi uma solenidade e tanto. Do tipo que só Brasília produz.
E soube de uma coisa impressionante: sou filha adotiva do presidente do Brasil! Lula dixit: “Quem não trata bem seus filhos em casa não será um bom governante, pois não saberá lidar com os filhos "adotados eleitoralmente".
Agradeço aos céus termos tido um pai como o Lula, que educou tão bem seus filhos e que foi tão bem educado ele mesmo, só assim ele pode ser o grande pai-presidente que é.
Só duas coisas me intrigaram. A primeira: o presidente nunca apanhou de sua mãe, que era contra a violência, nem de seu pai, apesar desse ser chegado a um destempero. Como então ele sabe que um "beliscão dói para cacete"? Quem foi o audacioso que teve a coragem de dar um beliscão no presidente?
A segunda: na mesma ocasião, ele disse que os conservadores iam criticar o projeto antipalmada. Criticou acerbamente os pais de família brasileiros, que não têm tempo para os filhos, mas têm tempo para uma cervejinha. E encerrou com chave de platina:
“O máximo que o homem brasileiro aprendeu a fazer, na sua forma mais banal de ser humano, é ter orgulho de, quando o filho completasse 15 anos, levar ele a uma casa de prostituição para ter sua primeira experiência sexual. E o máximo, para o pai, é a filha ser virgem até o casamento”.
Não, não foi o presidente Epitácio Pessoa quem disse isso. Foi Luiz Inácio Lula da Silva, em julho de 2010. Tenho a impressão que a garotada deve ter rido muito, isso depois de se informar sobre o que é uma casa de prostituição e o que vem a ser virgindade.
Idiotas? Não. Isso, não.